segunda-feira, 16 de novembro de 2009
O período dos Três Terços
As eleições de 1958 transcorrem sob o clima frustração causado pelos descaminhos do governo populista de Ibáñez. O pleito conta com quatro candidatos e o Partido Radical, que havia dominado a cena política no período anterior tem como candidato Luis Bossay, que obtém tímidos 15 % nas urnas. A Frente de Ação Popular (FRAP), composta por partidos de esquerda, lança Salvador Allende que soma 28,9% dos votos apurados. A Democracia Cristã apresenta como candidato Eduardo Frei Montalva que consegue 20,7% dos votos. A surpresa na eleição foi o candidato independente de direita, Jorge Alessandri, filho de Arturo Alessandri, que obteve nas urnas 31,6% dos votos.
A partir desta eleição os radicais perdem espaço no cenário político chileno e inicia-se o chamado período dos “Três terços”, onde a direita, a Democracia Cristã e a esquerda se enfrentarão sem que nenhum deles consiga maioria absoluta para governar e, num sistema eleitoral sem segundo turno, o Congresso é chamado para eleger, dentre os pleiteantes, aquele que irá ocupar a presidência.
Dado o resultado das urnas o Congresso, que tinha como praxe dar posse ao candidato que somasse maior número de votos, escolhe Jorge Alessandri que coloca em prática medidas visando controlar a inflação e dotar o Estado de infra-instrutora que possibilitasse os investimentos privados. No campo inicia uma reforma agrária distribuindo terras do Estado sem, contudo tocar nos grandes latifúndios.
Em seu governo ocorrem os dois maiores terremotos que se tem notícia na história da humanidade atingindo 9,5 graus de magnitude na escala Richter. Em 21 de Maio de 1960 a terra treme na cidade de Concepción e, dois dias depois em Valdivia. Os tremores arrasam inúmeras cidades e provocam Tsunamis que varrem grande parte da costa do Pacífico. O país recupera-se da catástrofe e, em 1962, cedia a Copa do Mundo de futebol.
Ao final de seu governo os socialistas, liderados por Allende, vão cada vez mais ganhando força e, em 1964, em pleno auge da Guerra Fria, os Estados Unidos não via com bons olhos a iminente subida ao poder de um candidato próximo aos soviéticos. Neste cenário a Democracia Cristã, liderada por Frei e apoiada pelos EUA, emerge como força capaz de barrar a ascensão da FRAP. No mesmo ano, no Brasil, a CIA patrocina o golpe militar que depõe Jango e instala a ditadura militar.
Diante da eminência da vitória de Allende, indicada pela eleição imediatamente anterior para a escolha do substituto do deputado socialista falecido, Óscar Naranjo, a direita opta por apoiar a candidatura Frei, que obtém 56% dos votos.
Seu governo será caracterizado por políticas reformistas com ênfase na construção de moradias populares, na reforma educacional, que levará o ensino público obrigatório fundamental para a população e na ampliação da reforma agrária que será feita a partir da expropriação de grandes latifúndios, o que é visto pelos partidos de direita que o haviam apoiado como traição.
Na economia Frei inicia a nacionalização das minas de cobre adquirindo grande parte das ações das maiores companhias mineradoras nas mãos de multinacionais. Pressionado tanto pelos partidos de direita como pela esquerda o governo enfrenta ondas de greve e, em 1968 o projeto de Reforma Universitária proposto deságua em manifestações e enfrentamento entre os universitários e o governo que reprime com violência. No ano seguinte situação se agrava e, com a iminente vitória de Allende nas eleições que se aproximavam pairava no ar um clima de golpe de estado que acabou ocorrendo em 29 de outubro no incidente conhecido como “Tacnazo”, rapidamente apaziguado pelo governo.
A democracia Cristã racha e é formado o Movimento da Ação Popular Unitária (MAPU) composto pela ala esquerda do partido que se une à Unidade Popular, nova frente de esquerda formada por socialistas, comunistas, radicais e sociais-democratas que tinha como objetivo levar Allende ao poder.
Enfrentam-se nas urnas, em 4 de setembro de 1970, Allende, candidato da Unidade Popular, Jorge Alessandri, candidato da direita e Radomiro Tomic, candidato da Democracia Cristã e, apurados os votos Allende obtém 36,3%, Alessandi 34,9% e Tomic 27,9%. O Congresso, mais uma vez, recebe a missão de definir o vencedor.
Embora desde 1946 o Congresso, nestes casos tivesse optado por dar posse ao candidato que no pleito somasse maior número de votos, como fizera em 1946, 1952 e 1958, muitos pressionam para que Alessandri fosse apontado como o novo presidente.
O governo Nixon era visceralmente contrario a um governo de matiz marxista na América Latina e, por meio da CIA, conspira para que Allende não fosse eleito presidente chegando a colocar em prática o seqüestro do comandante do exército, René Schneider como tentativa de forçar as forças armadas a intervir por meio de um golpe. O plano é executado em 22 de outubro, mas Schneider resiste aos seqüestradores e é gravemente ferido, vindo a falecer dias depois e, em 24 de outubro o Congresso aponta Allende como o vencedor do pleito.
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