A via democrática para a construção de uma sociedade socialista era uma experiência nova na história e Allende, que assume a presidência do Chile em 3 de novembro de 1970 irá enfrentar oposição interna dos partidos à direita e boicote e conspiração por parte do governo americano e de poderosas multinacionais como a ITT, a Pepsicola e a Ford.
Seu governo leva adiante a nacionalização das riquezas minerais e aprofunda a reforma agrária. Visando o controle estatal de setores da economia considerados estratégicos ensaia estatizá-las, mas sofre dura resistência dos partidos de direita.
Em represália à nacionalização de empresas americanas que exploravam o cobre e que, por pagarem valores irrisórios de impostos, não receberam indenização o governo americano passa a negar ao governo chileno empréstimos internacionais.
A política de controle da inflação a partir do congelamento de preços e do aumento real nos salários dos trabalhadores consegue, num primeiro momento, bons resultados e o país cresce a uma taxa de 8%, mas logo causa boicote por parte dos produtores e o desabastecimento. Ademais a conjuntura internacional desfavorável advinda da crise mundial do petróleo agrava o quadro para os países em desenvolvimento.
Os enfrentamentos entre partidários e opositores de Allende tornam-se constantes nas principais capitais e iniciam se as manifestações da classe média urbana contra o governo, que ficaram conhecidas como “panelaços”. No campo as disputas pela posse de terras entre agricultores e latifundiários não raro terminavam em conflito armado e mortes. Complicando ainda mais o quadro de instabilidade Fidel Castro visita o Chile e incita a esquerda radical a levar adiante uma revolução popular, caminho oposto ao preconizado por Allende. Nas cidades grupos de direita armados passam a praticar atentados contra oleodutos e centrais elétricas visando estabelecer o caos, preparando o terreno para um golpe militar.
Com o agravamento do quadro Democracia Cristã deixa a Frente Popular e une-se ao Partido Nacional para fazer oposição ao governo. As facções radicais como Movimentam de Esquerda Revolucionária e a Pátria e Liberdade, de extrema direita praticam constantes atentados. A CIA patrocina meios de comunicação greves nos setores fundamentais da economia com o objetivo de desestabilizar o governo.
Nas eleições parlamentares de 1973 a Unidade Popular obtém 43% dos votos e a Confederação pela Democracia 55%. O impasse se aprofunda, pois nem Allende consegue maioria para aprovar as reformas, nem a oposição consegue os dois terços necessários para derrubá-lo.
A quebra de braço entre o poder executivo e o Congresso em torno das reformas propostas leva Allende a convocar um plebiscito objetivando barrar o golpe de estado que se avizinhava desagradando facções mais radicais do governo a ponto de o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) passar a partir daí a chamá-lo de senhor ao invés de companheiro. Sua base de sustentação míngua; conta apenas com o Partido Comunista, o Partido Radical e o Movimento de Ação Popular Unitário, e o Partido Socialista, correntes que defendiam a via pacífica.
Setores da Marinha e da Força Aérea preparavam o golpe liderado pelo vice-almirante José Merino e pelo general Gustavo Leigh. Em 21 de agosto de 1973 o Comandante Chefe das Forças Armadas, Carlos Prats renuncia ao posto e, em seu lugar assume Augusto Pinochet, tido como leal e apolítico, mas que logo serraria fileiras ao lado dos golpistas.
Em 10 de setembro, como estava previsto navios da marinha zarpam para participar de exercícios militares, mas regressam a Valparaíso na manhã seguinte e dão início ao golpe tomando a cidade.
Allende é noticiado do início do golpe por volta das sete da manhã e dirige-se ao La Moneda com um grupo de partidários. Às 8h42, as rádios transmitem a primeira mensagem da Junta Militar exigindo a imediata renúncia do presidente sob ameaça de que, caso isto não ocorresse o La Moneda seria bombardeado.
Allende recusa-se a acatar o ultimato golpista e resolve continuar no Palácio e faz seu último pronunciamento:
Aviões da Força Aérea bombardeiam o La Moneda às 11h52 e, às 14 horas, os portões são derrubados pelo exército que toma o Palácio. Allende ordena a evacuação, mas recusa-se a se render e segundo o testemunho de seu médico pessoal suicida-se com uma rajada de metralhadora."Colocado em uma transição histórica, pagarei com minha vida a lealdade do povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregaremos à consciência de milhares e milhares de chilenos não poderá ser cegada definitivamente. Trabalhadores de minha Pátria! Tenho fé no Chile e em seu destino. Superarão outros homens nesse momento cinza e amargo onde a traição pretende se impor. Sigam vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrirão-se de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor." Salvador Allende, 11 de setembro de 1973
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