quarta-feira, 19 de junho de 2013

Redes de indignação e esperança

Ontem estive mais uma vez na manifestação, que desta vez fez concentração na Praça da Sé. Embora o eixo declarado do movimento seja pela revogação do aumento da passagem de ônibus, o que se vê lá é uma salada de reivindicações e de palavras de ordem que vão desde o cidadão entubado carregando em uma mão uma bolsa de urina e na outra um cartaz pedindo CIRURGIA JÁ, até membros do ministério público (o Fórum João Mendes é ao lado) carregando cartazes com montagens escrotas atacando a presidente Dilma por ter supostamente “criado” o bolsa bandido, o bolsa puta e por aí afora.
Seria muita ingenuidade acreditar que a direita golpista não iria buscar de alguma forma (de várias na verdade) capitalizar o movimento. Durante mais de 2 anos a reação procurou fazer decolar um movimento contra o governo federal não obtendo sucesso. Não conseguiam reunir em suas manifestações mais de uma centena de gatos pingados. Enquanto isso no eleitorado jovem crescia o descontentamento e a desilusão apática.
É a ʥƱɇʥƱɇ do presidencialismo de coalizão e a política de alianças desenhada pelo PT, meu caro. Hoje você olha e vê o partido de mãos dadas com seus principais inimigos históricos. Não há quem aguente!!!
Não víamos grandes manifestações de rua desde o Fora Collor, e não há como negar que o movimento a que se assiste é fruto de um fenômeno relativamente novo. Nasceu e tomou vulto a partir das redes sociais engajando uma juventude descontente e apartada dos canais tradicionais do fazer político (partidos, sindicatos, associações, agremiações estudantis, etc.). É a tal rede de indignação e esperança, abordada por Castells. Os partidos políticos (todos) e as esferas de poder representativo estão há muito apartados do cidadão comum.
Aqui em Sampa o Haddad perdeu o bonde. Deveria ter imediatamente revisto o aumento. Eu em seu lugar teria deixado o Alckmin sozinho em Paris e voltado para negociar com os manifestantes logo de início. Jantava o PSDB.
Mas não; preferiu posar de durão e fazer coro com a direita truculenta (juntamente com o Ministro da (in) justiça) que prontamente ofereceu tropas federais para ajudar o governo estadual. Estão prendendo manifestantes e enquadrando-os por "formação de quadrilha"!!!
Isso é criminalizar os movimentos sociais.
Só há uma coisa que me espanta mais do que o amadorismo do Haddad e sua equipe: o profissionalismo do Alckmin, que após a repressão violenta da manifestação de quarta-feira decidiu retirar o policiamento das ruas.
Embora a imensa maioria dos manifestantes seja pela ação pacífica, uma minoria ontem atacou a prefeitura, saqueou lojas, queimou o carro da TV Record e vários ônibus.
Já tem muita gente na rede pedindo uma ação mais enérgica, ou seja: REPRESSÃO, o que é lamentável.
Ontem sete capitais atenderam as reivindicações e abaixaram a tarifa. Aqui em Sampa o prefeito já fala em rever o valor de 3,20.
Todo esse desgaste poderia ter sido evitado. É inadmissível que um partido que nasceu das manifestações populares se porte desta maneira.