segunda-feira, 12 de outubro de 2009

REDES SOCIAIS DIGITAIS E AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO CHILE EM 2009



A POLÍTICA NA ERA DO E-MARKETING 2.0

Atualmente, no Chile, seis políticos lançaram oficialmente suas candidaturas para as próximas eleições presidenciais que ocorrerão em 13 de dezembro próximo e, todos eles à sua maneira, vêm procurando ocupar espaço nas chamadas redes sociais digitais objetivando conquistar a preferência do eleitorado. E não poderia ser diferente, uma vez que a vitória de Barak Hussein Obama inseriu a ação político-eleitoral na era do e-marketing 2.0 constituindo-se um marco significativo na história, não só dos Estados Unidos, país que por mais de três séculos carregou a mancha da segregação racial, mas também nos processos de comunicação global e na forma de se fazer política.0

Sua equipe ousou inovar lançando mão de instrumentos e canais de comunicação até então muito pouco utilizados em campanhas eleitorais. Logo de início o candidato abriu mão do financiamento público de campanha, um dinheiro fácil vindo dos cofres públicos, para arriscar-se na captação de fundos via internet. A estratégia provou ser acertada, uma vez que o volume de recursos captados atingiu a cifra de mais de 600 bilhões de dólares em doações online. Isto contra pouco mais de 84 milhões a que o candidato republicano John McCain dispunha como teto de gastos por ter aceitado o financiamento público.

Obama centrou esforços nos pequenos doadores, e estes eram cativados via interação na rede digital. A vitória do democrata não foi somente uma questão de mais recursos. Atingiu-se está cifra astronômica graças à política de e-marketing 2.0, carro chefe da campanha de Obama, e isto em um momento em que os usuários da rede clamam por interatividade.

Antes mesmo de definido o candidato do partido as ações de e-marketing de Obama já chamavam a atenção de analistas políticos e especialistas em redes sociais digitais. Inácio Rodrigo de Castro, especialista e TI apontava, pouco antes do fechamento das previas partidárias, em seu blog:

“Até agora ninguém pode afirmar qual candidato vencerá as prévias que definem os candidatos oficiais de Democratas e Republicanos nos Estados Unidos. Porem, o marketing e o e-marketing adotado pela equipe de Barack Obama já merece grande destaque. A “campanha e-marketing 2.0” realizada pelo candidato Barack Obama é fantástica e inovadora no marketing político no mundo. Se a eleição fosse através da net, provavelmente o candidato Barack Obama, que tem dado muito trabalho a ex-primeira dama Hillary Clinton, já estaria eleito como presidente dos Estados Unidos”.

http://inaciorodrigodecastro.com.br/blog-barack-obama-inacio-rodrigo-de-castro acesso em 15/08/2008 - 21h18.


As estratégias na rede foram entregues a Chris Hughes, co-fundador da rede social Facebook, com larga experiência em interatividade. Hughes foi o idealizador do MyBarackObama.com, a plataforma de rede social que centralizou as atividades da campanha online, também chamada de MyBO. A presença na rede foi arrasadora. Por onde se navegasse haveria à disposição conteúdos produzidos tanto pela campanha como por iniciativas individuais. Pela rede circularam desde e-mail com convites para a participação das mais diversas atividades de campanha, pedidos de doações, mensagens do candidato, links para vídeos, músicas, relatos de campanha. Quem desejasse poderia criar na rede social digital MyBO um blog pessoal personalizável de apoio à candidatura onde se poderia participar de várias atividades on-line com o candidato. Mais de 35 mil blogs de apoio a Obama foram criados.

Um milhão de pessoas se tornaram assinantes do sistema de envio de mensagens pelo celular, 200 mil eventos foram planejados, 400 mil posts escritos e mais de 35 mil grupos foram criados por meio da rede MyBarackObama.

A presença maciça nas redes sociais digitais foi uma estratégia de campanha rendeu preciosos frutos. Com baixo custo foi possível atingir um número altamente significativo de adesões, sempre segmentando as ações. Obama fez-se presente em todas as principais redes: Facebook, YouTube, Flickr, MySpace, Digg, Eventful, Twitter, Linkedin, AsianAve para levar sua mensagem aos descendentes de asiáticos, BlackPlanet, Glee, Faithbase, MiGente e Batanga para falar aos latinos e o Eons para os nascidos entre 1946 e 1964, os famosos baby boomers. A estratégia de segmentar a mensagem para atingir públicos específicos respeitou ainda as linguagens, gostos e problemáticas de cada público. Nestas comunidades conteúdos produzidos por simpatizantes tomaram a rede e multiplicaram-se. Exemplo disto foi o vídeo "Yes, we can" produzido pelo Will.i.am baseado em um discurso de Obama. O vídeo fez tanto sucesso que ganhou um site próprio, o www.dipdive.com. Outro exemplo foi a canção Vote for Hope, feita pelo MC Yogi que, em pouco tempo, tornou-se sucesso e foi tocada nas rádios de vários países inclusive no Brasil.
Além das comunidades virtuais segmentadas buscando atingir públicos específicos a campanha oferecia aos internautas uma loja virtual onde eram vendidos os mais variados produtos, todos eles de muito bom gosto.

A campanha conseguiu fazer do candidato democrata uma grife, uma lovemark e o mercado passou a oferecer tênis, camisetas, sacolas, roupa para cachorro, canecas, e até calcinhas com a marca da campanha, vendidas no Cafepress, uma loja virtual de produtos variados. Como estratégia sagaz de ataque papel higiênico com os rostos estampados de McCAin e Bush foram postos à venda.

Outra iniciativa da campanha foi disponibilizar no site do candidato ringtones e wallpaper para celulares. Até mesmo um aplicativo para smartfone foi desenvolvido visando atrair para a campanha de Obama os usuários.

Com planejamento e sagacidade sua equipe usou e abusou da interatividade dos novos meios de comunicação para aproximar o candidato do seu eleitorado potencial.
“Obama, em um de seus comícios no Central Park em Nova York depois de um discurso empolgante, convocou os presentes a se juntarem à campanha. Como? Resumindo a história, gritou em alto e bom som algo como: “peguem seus celulares agora, digitem “Join” e enviem o SMS para o número X”. Feito. Isso foi o bastante para que os presentes se conectassem a campanha através do mais “íntimo” dos seus aparelhos. E foi também o adeus definitivo às velhinhas voluntárias que recolhem assinaturas no bom e velho papel, ao lado do palanque."
http://inaciorodrigodecastro.com.br/blog-barack-obama-inacio-rodrigo-de-castro acesso em 15/08/2008 - 21h18.


Esta comunicação dirigida, feita aos milhares e milhares, mas por meio de uma tecnologia que permite não somente transmitir mensagens no velho esquema emissor/receptor como na comunicação eletrônica, mas privilegiando a interatividade das redes sociais digitais, produziu conteúdos desvinculados das grandes corporações da mídia (TV e jornais).

Aí reside a força da estratégia vitoriosa de Obama que ousou fincar os dois pés no século XXI, onde, segundo FELICE, “a humanidade estaria enfrentando uma ulterior revolução comunicativa, implementada pelas tecnologias digitais, que, numa concepção histórica, constituiria a quarta revolução e que, como as outras, estaria ocasionando importantes transformações no interior dos distintos aspectos do convívio humano.”(FELICE, 2008, p.22).

Com maestria a campanha de Obama soube lançar mão do que há de mais atual em termos de comunicação digital, privilegiando a interatividade, a liberdade de expressão e a participação democrática, inaugurando uma nova era na comunicação política e eleitoral.

Nos próximos dos meses nossa reflexão terá como objeto as ações de campanha dos candidatos à presidência no Chile no que se refere à utilização dos recursos do e-marketing 2.0, tema de meu trabalho de conclusão do curso de especialização em Marketing político e propaganda eleitoreal na Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo.

Buscaremos avaliar em que medida as inovações implementadas a partir da campanha americana se farão presentes nas ações dos candidatos chilenos no que se refere à captação de recursos, comprometimento e mobilização do eleitor, criação de canais de expressão para manifestação de opinião e ainda como enfrentarão a enxurrada de conteúdos produzidos pelos cidadãos comuns nas redes sociais digitais com o objetivo de ataque. Estes, quase sempre postados no site Youtube, batem recordes de exibição e, muitas vezes tem o poder de causar severos estragos.

É importante ressaltar que no Chile, segundo dados do comScore de junho de 2007, a taxa de penetração no que se refere ao número de internautas em relação ao conjunto da população é de 45%, a maior dentre os países da América Latina, e segundo estudo realizado pela Everis, consultoria multinacional de negócios e tecnologia da informação, em parceria com a Escola de Negócios da Universidade de Navarra (IESE Business School), em 2008, 97,5% de suas conexões são feitas por banda larga.