sábado, 5 de dezembro de 2009

As redes sociais digitais


As redes sociais digitais nasceram a partir do surgimento da chamada web 2.0. Este termo foi utilizado pela primeira vez em outubro de 2004 pelas empresas americana produtoras de conferências e feiras de tecnologia de informação, com a COMDEX, O’Reilly Media e MediaLive International como o nome de um ciclo de conferências sobre interatividade na web. Tim O’Reilly, inventor do termo define-o em seu blog :
"Web 2.0 é a mudança para uma internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência coletiva"

A referência ao aproveitamento da inteligência coletiva O’Reilly reporta-se a uma das principais características da web 2.0 que é sua interface interativa, construída a partir de aplicativos abertos à participação de todos. Os códigos ou boa parte deles podem ser melhorados com a participação dos usuários. A esta característica deu-se o nome de Beta perpétuo, pois os aplicativos e plataformas não são mais relançados a cada ano, mas aprimorados constantemente com a participação dos usuários.

Os avanços nos aplicativos permitem, na chamada web 2.0, que qualquer usuário que não disponha de conhecimentos de programação, postar e receber conteúdos como textos, imagens, sons e vídeos abrindo espaço para que todos possam produzir e publicar conteúdos; os chamados Consumer-Generated Media (CGM) – mídia gerada pelo consumidor. Nascem os Blogs e as redes sociais de relacionamento digital, como o Facebook, Orkut, YouTube, MySpace, Digg, e tantas outras.

Este “boca-a-boca digital”, embora não seja uma interação face-a-face, tende a ter a mesma influência desta nas tomadas de decisão de compra e do voto por possuir maior credibilidade do que as mídias tradicionais.
O nome blog vem da junção das palavras Web e Log e são sites gratuitos que permitem a qualquer cidadão, em qualquer parte do mundo, escrever e publicar artigos ou “posts”. Permitem comentários de leitores casuais e mecanismos para, quem assim o desejar, seguir os posts e ser alertado sobre atualizações. Os blogs nasceram como diários pessoais on-line e transformaram-se em ferramentas de informação e, não raro pautam a mídia tradicional por serem ageis e, muitas vezes são usados como fonte por portais de notícias, TVs e jornais.

Os atentados de 11 de setembro contra as torres gêmeas são um exemplo clássico disso, pois enquanto a mídia tradicional buscava informações, muitos blogs postavam vídeos e fotos do acontecido que posteriormente foram veiculados na TV e nos portais de notícias. Muitos políticos na atualidade possuem blogs que funcionam como canais informais de comunicação com o eleitor.

O facebook é uma comunidade de relacionamento que foi lançada em fevereiro de 2004 por Mark Zucherberg, um ex-estudante de Harvard com o objetivo de aglutinar os estudantes daquela instituição e, rapidamente alastrou-se por outras universidades americanas. Hoje o site de relacionamento possui, segundo dados estatísticos da empresa , mais de 350 milhões de usuários. Segundo estudo realizado pela Sysomos , Michael Jackson é a página mais popular no Facebook, com 10 milhões de seguidores, vindo em segundo lugar a do ator Vin Diesel com 7 milhões e, em terceiro, a do presidente Barack Obama com 6,9 milhões.

No Chile o facebook é o segundo site de maior tráfego, só superado pelo site de busca Google Chile. Todos os candidatos a presidente do Chile nestas eleições possuem perfil no facebook e fazem uso do mesmo como canal de comunicação e mobilização do eleitorado.

O YouTube é um site que permite a seus usuários carregar e compartilhar gratuitamente vídeos na rede formando canais próprios que, como todas as redes sociais digitais, possibilitam seguir e ser seguido pelos internautas. Foi fundado em 2005 por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim que trabalhavam juntos na Pay Pal, uma empresa de transferência de fundos e pagamentos por meio da web e celular. O sucesso do YouTube foi meteórico e, em 2006 foi eleito pela revista Time a melhor invenção do ano. Um ano depois de criado a Google comprou a empresa por nada menos que 1,65 bilhão de dólares. Muitos políticos fazem uso do YouTube postando seus vídeos, mas encontramos alí, sobretudo vídeos de crítica a eles. No Chile o canal de vídeo no YouTube dos “difamadores” faz críticas bem humoradas a todos os atuais candidatos a presidente.

O Twitter é um microblog gratuito que permite aos usuários cadastrados postarem textos de até 140 caracteres conhecidos como “tweets”. Os tweets são exibidos em tempo real nas páginas dos usuários que podem “seguir” ou serem seguidos pelos outros “twitteiros”. Foi criado em 2006 por Jack Dorsey e, como as outras inovações da web, teve crescimento vertiginoso atingindo e, embora a empresa não forneça dados sobre o número de assinantes a Sysomos analisou mais de 11,5 milhões de usuários para documentar o crescimento deste microblog e padrões de utilização .

O Twitter tem sido utilizado por muitos políticos alimentado pessoalmente ou por assessores. Embora procure ser utilizado como uma ferramenta para agregar valor e aproximar o eleitor do político, no Brasil recentemente assistiu-se um caso em que foi fator de desgaste. O protagonista foi o senador Mercadante que precipitadamente postou em seu microblog declaração anunciando que deixava a liderança do partido de forma irrevogável e, em seguida, após puxão de orelhas do presidente Lula voltou atrás revogando o irrevogável. Para que desgastes não ocorram os recursos da rede devem ser utilizados com a máxima cautela, pois atingem um grande número de pessoas em tempo real.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A Internet seria o novo príncipe eletrônico?


O poder dos fluxos é mais importante que os fluxos do poder
Manuel Castells


Vivemos em plena quarta revolução comunicativa e, da mesma forma que as outras três anteriores, a adoção de novas tecnologias e novos meios de comunicação possibilitam com que a mensagem chegue a um público cada vez maior em um espaço de tempo cada vez mais reduzido e com um custo cada vez menor. Além disso, são criadas possibilidades de novas práticas sociais e novas formas de interação do homem com a paisagem.
“Na época contemporânea, a humanidade estaria enfrentando uma ulterior revolução comunicativa, implementada pelas tecnologias digitais, que, numa concepção histórica, constituiria a quarta revolução e que, como as outras, estaria ocasionando importantes transformações no interior dos distintos aspectos do convívio humano”. (FELICE: 2008, p.22)
A velocidade espantosa das transformações ocorridas é sem precedentes na história e teve início na década de 60, em pleno auge da Guerra Fria. Visando interligar pontos estratégicos a uma rede descentralizada que não pudesse ser destruída por bombardeios, o Departamento de Defesa do governo americano cria a ARPANET.

Em pouco tempo várias Universidades americanas são conectadas à rede e passam a participar do projeto contribuindo para seu aprimoramento. No ano de 1972 a @ passa a ser utilizada para a troca de emails e, em 1974 a palavra Internet é utilizada pela primeira vez pelo cientista Vinton Cerf. No ano de 1983 o TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol), linguagem comum usada por todos os computadores conectados à rede é criada e em 1991, Tim Berners-Lee e Robert Cailliau criam a World Wide Web, sistema de hipertextos que funciona a partir de links clicáveis que levam a outros sites. Castells comenta em sua obra o surgimento e a apropriação da Web como instrumento de resistência política.
“Como se sabe, a Internet originou-se de um esquema ousado, imaginado na década de 1960 pelos guerreiros tecnológicos da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (a mítica DARPA) para impedir a tomada ou destruição do sistema norte-americano de comunicações pelos soviéticos, em caso de guerra nuclear. De certa forma foi o equivalente eletrônico das táticas maoístas de dispersão das forças de guerrilha, por um vasto território, para enfrentar o poder de um inimigo versátil e conhecedor do terreno.O resultado foi uma arquitetura de rede que, como queriam seus inventores, não pode ser controlada a partir de nenhum centro e é composta por milhares de redes de computadores autônomos com inúmeras maneiras de conexão contornando barreiras eletrônicas... Essa rede foi apropriada por indivíduos e grupos no mundo inteiro e com todos os tipos de objetivos, bem diferentes da extinta Guerra Fria. Na verdade, foi pela Internet que o subcomandante Marcos, líder dos zapatistas de Chiapas, comunicou-se com o mundo e com a mídia, do interior da floresta de Lacandon. E a internet teve papel instrumental no crescimento da seita chinesa Falun Gong, que desafiou o partido comunista da China em 1999, bem como na organização e na difusão do protesto contra a Organização Mundial do Comércio em Seattle, em dezembro de 1999”. (CASTELLS: 2005, p. 44)
O advento da rede mundial de computadores rompe a passividade ao transformar o público espectador em produtor de conteúdos e a comunicação instantânea, em tempo agora corre não mais de um emissor para um receptor, passivo que assiste a tudo como a um espetáculo do qual faz parte como mera audiência. É a dissolução do paradigma no qual se assentavam os estudos desenvolvidos sobre a cultura de massas. O esquema emissor, mensagem, meio, receptor e ruído não mais fazem sentido no âmbito da comunicação digital.
“Em nível comunicativo, a passagem das tecnologias analógicas para aquelas digitais comporta a alteração do processo de repasse das informações, alterando a direção dos fluxos comunicativos e, sobretudo, a posição e a identidade dos sujeitos integrantes. Como foi descrito por diversos autores (Shannon-Weaver, Eco, e Fabbri), em níveis diferentes de complexidade, a forma analógica se exprime pelo repasse das informações procedente de um emissor em direção a um receptor através da emissão de um fluxo unilateral distribuído por canais e com as intervenções de ruídos. Ao contrário de tal modelo, a comunicação digital apresenta-se como um processo comunicativo em rede e interativo. Neste, a distinção entre emissor e receptor é substituída por uma interação de fluxos informativos entre o internauta e as redes, resultante de uma navegação única e individual que cria um rizomático processo comunicativo entre arquiteturas informativas (site, blog,comunidades virtuais etc.) conteúdos e pessoas”. (FELICE: 2008, p.44-45)
A utilização dos meios digitais disponíveis, tais como os notebooks, as webcam, a máquina fotográfica digital, os smartphones possibilitam a obtenção e produção de informações em tempo real, teoricamente em qualquer lugar.
No que se refere à participação política a rede digital rompe com o personalismo que caracteriza a comunicação eletrônica. A tendência hoje é a da formação de redes virtuais que, cada vez mais, aglutinem pessoas ao redor do mundo em torno de problemáticas específicas para a troca de experiências para buscar soluções. Cada vez mais a postura passiva que transferia a solução dos problemas da sociedade para o político-líder vai sendo substituída na rede pela participação consciente.
“As redes digitais instauram uma forma comunicativa feita de fluxos e de troca de informações “de todos para todos”. Em função da quantidade ilimitada de informações que poder ser veiculadas na rede, a temporalidade também é distinta, praticamente em tempo real, resultando instantâneas todas as formas de comunicação na web. Do ponto de vista político, com relação à forma analógica, mudam os meios utilizados, as formas e os conteúdos”. (FELICE: 2008, p.52-53)
Felice propõe a transposição do conceito de “obra aberta”, elaborado em 1962 por Umberto Eco para a sociedade mediada pelas tecnologias digitais, uma vez que estas se apresentam como inacabadas e abertas à participação colaborativa.
“O conceito de sociedade aberta pode ser definido, a partir deste ponto de vista, como um conceito projeto, isto é, um campo de possibilidade, um conceito em movimento que, com o tempo e as interações criadoras dos internautas, passa a assumir formas diversas. Trata-se de um deslocamento conceitual importante que, pondo ênfase na crise do antropocentrismo, define as sociabilidades e as culturas contemporâneas como realidades que nascem nas redes e nos fluxos informativos digitais e que, em seguida, tomam formas e espaços em localidades e topografias conectadas.
Abrem-se assim, as possibilidades de se pensar um novo conceito de virtualidade, e também outro conceito de social. A sociedade a código aberto, mais do que um conjunto de definições de conceitos, é também uma prática e uma forma de habitar, na qual construímos conteúdos e nos apropriamos do mundo através das tecnologias digitais. Portanto, além de um conceito em movimento, um campo de possibilidades, constitui-se num ecossistema no interior do qual habitam todos aqueles que criam idéias, pensamentos, culturas, tempo livre, prazer, arte, conteúdos “na” e “através” das redes. Código aberto, portanto, à contaminação criativa, à participação dos demais, portador de uma ética não mais autoritária, mas tecnologicamente experimental e socialmente não duradoura”. (FELICE: 2008, p.57-58)

As previsões catastróficas de Theodor Adorno e Max Horkheimer que vaticinavam os perigos da formação de ditaduras e governos totalitários, a partir da homogeneização e alienação das mentes, em conseqüência do advento do mass media, embora tenham sido, em certa medida, acertadas no que se refere ao século XX, onde imperava a comunicação analógica, perdem ressonância hoje na era da comunicação digital.

A chamada quarta revolução comunicativa parece destronar, um a um os príncipes, de Maquiavel as Ianni, pois o que está em jogo na rede não é a hegemonia, mas a liberdade de expressão e a busca coletiva de soluções de problemas globais pelos que habitam o mundo atópico das redes sociais digitais.

A comunicação política no século XXI

As revoluções comunicativas
"Technology is neither good nor bad; nor is it neutral.”
Primeira Lei de Melvin Kranzberg



Na história do desenvolvimento das sociedades humanas, a invenção do alfabeto ocorrida na Grécia por volta do ano 700 a.C., constitui-se num grande salto que possibilitou a construção do discurso conceitual, bases para o desenvolvimento da filosofia ocidental e da ciência. Embora a escrita pictórica já fosse utilizada pelos Sumérios desde 3.300 a.C., o alfabeto, em suas bases fonéticas, dá uma nova dimensão à escrita e, após mais de três mil anos de comunicação oral o homem passava a ter a possibilidade da comunicação cumulativa, baseada no conhecimento.

Avançando para a Idade média, na Europa Ocidental, os monastérios terão o domínio da cultura letrada e, por meio do trabalho exaustivo de copistas, trabalharão na preservação dos textos da antiguidade clássica e na produção de uma cultura eminentemente eclesiástica, voltada ao restritíssimo círculo letrado da época.

A difusão do alfabeto só se dará a partir da invenção dos tipos móveis de Gutenberg em 1450, consolidando a cultura letrada e a comunicação escrita a partir da difusão do livro e do jornal impresso.

Ao analisar a questão da passagem da cultura oral para a cultura escrita, Castells alerta para o fato de que o sistema audiovisual de símbolos e percepções, tão importante para a expressão plena da mente humana é relegado a um segundo plano, mas irá ressurgir no cenário da comunicação humana, se impondo no século XX.

“Ao estabelecer – implícita e explicitamente – uma hierarquia social entre a cultura alfabetizada e a expressão audiovisual, o preço pago pela prática humana do discurso escrito foi relegar o mundo dos sons e imagens aos bastidores das artes, que lidam com o domínio privado das emoções e com o mundo público da liturgia. Sem dúvida, a cultura audiovisual teve a sua revanche histórica no século XX, em primeiro lugar com o filme e o rádio, depois com a televisão, superando a influência da comunicação escrita nos corações e almas da maioria das pessoas.” (CASTELLS: 2005, p. 413)

O advento do cinema, no final do século XIX, das transmissões radiofônicas e da televisão, no início do século XX inaugura o período da chamada cultura de massas, marcada pela reprodução em série da produção cultural, largamente criticada pelos filósofos da chamada Escola de Frankfurt, da qual Theodor Adorno Adorno e Max Horkheimer são máximas expressões. Na obra “Dialética do esclarecimento” Adorno recusa o termo cultura de massa e introduz o conceito de Indústria cultural. Para eles o desenvolvimento da comunicação de massa teve um impacto fundamental sobre a natureza da cultura e da ideologia nas sociedades modernas. A cultura, na visão desses teóricos seria o instrumento que desenvolve e assegura formas de controle das concepções sociais e das ideologias estruturadas na sociedade capitalista. Denunciam acidamente o caráter de mercadoria da cultura, onde o consumidor é levado à ilusão de que é sujeito, mas, ele próprio, é transformado em mercadoria e vendido na forma de índices de audiência para o mercado publicitário.

Na época em que Adorno e Horkheimer formularam suas idéias o Rádio e o Cinema impunham-se como poderosos meios de comunicação de massa. Ao contrário de Walter Benjamin, também pertencente à Escola de Frankfurt, que via no cinema e na possibilidade da reprodutibilidade da obra de arte um fator de esperanças, Adorno nutre na obra uma visão catastrófica.

“...o que nos propusemos era, de fato, nada menos do que descobrir por que a humanidade, em vez de entrar em estado verdadeiramente humano, está se afundando numa nova espécie de barbárie”. (ADORNO: 1991, p.11)

A comunicação na era da sociedade de massas, não faculta ao espectador nada além do que consumir passivamente as mensagens a ele direcionadas pelos meios de comunicação eletrônicos como verdades absolutas, inquestionáveis forjando o axioma “deu na TV, logo, é verdade”.

Na chamada sociedade de massas a política vive a era da “democracia eletrônica” e se espetaculariza, obedecendo pautas, conteúdos e estética dos programas de entretenimento, como ressalta Ianni.

“No âmbito da “democracia eletrônica”, dissolvem-se as fronteiras entre o público e o privado, o mercado e a cultura, o cidadão e o consumidor, o povo e a multidão. Aí o programa televisivo de debate e informação política tende a organizar-se nos moldes do programa de entretenimento... Esse é o clima no qual a política tem sido levada a inserir-se, como espetáculo semelhante a espetáculo dentro do espetáculo”. (IANNI: 2000, p. 153)

Assim, a passividade da sociedade de massas reflete no cotidiano da política e, ao cidadão, não resta nenhum outro papel senão o de votante. Tal como o consumidor, que ao ir às compras vive a ilusão de ser sujeito, já denunciada por Adorno, o eleitor vota e, como assinala Baudrillard, sente-se participante do processo político, transferindo ao outro a responsabilidade da solução dos problemas cotidianos, esvaziando a esfera pública de todo o seu significado.
“Não é por acaso que a publicidade, depois de ter veiculado durante muito tempo um ultimato implícito de tipo econômico, dizendo e repetindo no fundo incansavelmente: ‘compro, consumo, gozo’, repete hoje sob todas as formas: ‘voto, participo, estou presente, isto diz-me respeito’ – espelho de uma zombaria paradoxal, espelho da indiferença de todo o significado público” (BAUDRILLARD: 1981, p. 114)

Hoje, na sociedade moderna, somos a cada instante bombardeados por informações. Ouvimos o rádio ao dirigirmos no caótico trânsito das metrópoles, visualizamos outdoors e anúncios nas fachadas dos edifícios comerciais, assistimos aos noticiários na TV, lemos jornais, livros, revistas e navegamos na web em busca de informações. A profusão de informações que nos rodeiam nunca foi tão acintosamente generosa.

Crítico contundente da sociedade de consumo Baudrillard construiu uma série de teorias sobre os impactos da comunicação e das mídias na sociedade e na cultura contemporâneas. Para ele a saturação de informação na sociedade de consumo, o mundo virtual criado pela mídia, leva ao esvaziamento do real e à falência da comunicação. Este ponto de vista, nada animador, formulado no início da década de 90, é defendido por Baudrillard na obra “Simulacros e Simulações”.

“Em toda parte é suposto que a informação produz uma circulação acelerada do sentido, uma mais-valia de sentido homólogo à mais-valia econômica que provém da rotação acelerada do capital. A informação é dada como criadora de comunicação (...). Somos todos cúmplices deste mito. É o alfa e o ômega da nossa modernidade, sem o qual a credibilidade da nossa organização social se afundaria. Ora o fato é que ela se afunda, e por este mesmo motivo. Pois onde pensamos que a informação produz sentido, é o oposto que se verifica. (...) Assim a informação dissolve o sentido e dissolve o social numa espécie de nebulosa votada, não de todo a um aumento de inovação, mas, muito pelo contrário, à entropia total. Assim, os media são produtores não da socialização, mas do seu contrário, da implosão do social nas massas”. (BAIDRILLARD: 1991, p.104-106)

A obra “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel, escrita em 1513, inaugura o pensamento político moderno e ainda hoje é referência para aqueles que vivenciam a política. Dedicada ao príncipe Lourenço de Médici II, foi concebida pelo autor para servir de subsídio à implantação de uma política de unificação da Itália, tão sonhada por ele. Nela Maquiavel debate o que seriam os principados, relacionando os tipos existentes, como seriam conquistados, mantidos ou perdidos. Fortuna e virtù seriam os principais atributos do príncipe para a consecução dos objetivos do reino.

Em “O príncipe eletrônico”, Ianni parte das teorias de Maquiavel e do pensador italiano Antonio Gramsci sobre o partido político, visto como “intelectual coletivo”, para analisar as implicações decorrentes das transformações ocorridas com o avanço dos meios de comunicação de massa e da globalização. Comparando o príncipe de Maquiavel ao príncipe moderno de Gramsci, Ianni conclui que ambos são análogos no que se refere à capacidade de construir hegemonias.

“Tanto no que se refere a O Príncipe, de Maquiavel como o moderno príncipe, de Gramsci, estão em causa figuras e figurações fundamentais da política. Tudo o que pode ser específico da política neles se polariza, sintetiza ou galvaniza. Nesse sentido é que, em última instância, esses tipos ideais ou arquétipos estão referidos à capacidade de construir hegemonias, simultaneamente à organização, consolidação e desenvolvimento de soberanias”. (IANNI: 2000, p. 142.)

Lançando o olhar crítico para o final do século XX, tendo como referenciais as teorias de Maquiavel e Gramsci, Ianni aponta o envelhecimento dos “príncipes” construídos por aqueles e elabora sua teoria do príncipe eletrônico. Se para Maquiavel, o príncipe é uma pessoa, o líder ou condottiere, capaz de articular inteligentemente suas qualidades de atuação e liderança (virtù), e as condições sociopolíticas (fortuna), e para Gramsci o moderno príncipe é o partido político, para Ianni o príncipe eletrônico será personificado por aquilo que ele classifica como “a indústria de manipulação das consciências”, formada pela grande corporação de mídia e, em especial, a TV.

“O que singulariza a grande corporação da mídia é que ela realiza limpidamente a metamorfose do mercado em ideologia, do mercado em democracia, do consumismo em cidadania. Realiza limpidamente as principais implicações da indústria cultural, combinando a produção e a reprodução cultural com a produção e a reprodução do capital; e operando decisivamente na formação de “mentes” e “corações” em escala global.” (IANNI: 2000, p.152).

Embora em diversas passagens de seu texto Ianni inclua a internet dentre os meios de comunicação, acreditamos que, hoje, passados dez anos da produção do mesmo, os avanços acelerados no que se refere ao desenvolvimento dos chamados meios de comunicação digital impõem uma análise mais atenta daquilo que muitos autores denominam a quarta revolução comunicativa.

Castells nos dá a idéia exata da rapidez com que o meio de comunicação digital têm se disseminado por todo o mundo.

“A Internet tem tido um índice de penetração mais veloz do que qualquer outro meio de comunicação na história: nos Estados Unidos, o rádio demorou 30 anos para chegar a sessenta milhões de pessoas; a TV alcançou esse nível de difusão em 15 anos; a internet o fez em apenas três anos após a criação da teia mundial”. (CASTELLS: 2005, p. 439)